Enganchar, enganchar...!
Entrámos
no sábado de Páscoa. Terminava à meia noite a “guerra” da reza, do “enganchar, enganchar,
para no domingo de Páscoa dar o folar. Reza!”. Assim, ou com outra litania
ficava marcada esta “guerra”, quase que de alecrim e manjerona e, de hora a
hora, travava-se batalhas, que só a telha protegia. Faziam-se esperas, algumas
bastante demoradas, mas aqui é que dava azo ao ditado, “o último a rir é que
ria melhor”, tivesse para tal, dentes, para “roer” as amêndoas. A noite era
quebrada com as gargalhadas do vencedor, que gritava aos sete ventos – “perdeste”.
Realmente, todos perdemos, perdemos a pureza desses momentos, dessas “guerras”
que por vezes se revelavam tão assanhadas, porque ninguém gosta de perder. Como
se ouve ainda hoje, nem a botões e, a desforra, só seria para o outro ano.
Lembro-me, de “batalhas ganhas”, outras “perdidas” e, uma delas, a “raiva” do
momento ditou que não soubesse “perder”. Assim sendo, nesse dia “aprendi uma
lição”, lição para a vida, mas “aprendi”.
E nessa noite, noite de Aleluia, ainda dava os últimos
estertores, já se ouvia pelo vale de Besteiros, o som dos foguetes a
despertarem para um dia, ou de cara farrusca, ou de sol inclemente, mesmo assim,
era domingo de Páscoa.
O som da campainha marcava o compasso, a passada, ao
mesmo tempo anuncia a chegada da Cruz, e nesse momento, revivia-se na casa de
cada um, a Ressurreição de Cristo. De portas abertas, de sorriso escancarado no
rosto, espera-se a vez de ver cruzar os umbrais a cruz que anuncia este momento
sublime do Cristianismo. Perdeu-se talvez com o marchar do tempo um pouco da
magia da Páscoa, a sua envolvência, a alegria das crianças atrás das amêndoas.
Em tempos idos, na semana anterior era hábito limpar e
lavar a casa, normalmente com sabão amarelo já que o soalho era de madeira,
porque dava uma tonalidade única. Nas mesas da casa, a tradicional tolha branca
com o folar, às vezes, era uma laranja acompanhada por uma moeda ou nota
conforme as posses de cada um.
Vamos entoar a aleluia, a aleluia de Cristo
ressuscitado, momento histórico que transmite esperança, esperança em dias
melhores, e, é nisso que temos de acreditar. A todos uma Santa Páscoa, apesar
de mitigada, mas assim manda a solidariedade e para vencermos esta dura
batalha. Sempre com prazer que se
vive este dia, e a honra de pertencer a esta comunidade besteirense
que mesmo afastada do seu torrão natal, a lembramos com saudade.
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