18 de abril de 2020

LUGARES DE BESTEIROS

O MOINHO DA SAPATA, PATA AQUI, PATA ACOLÁ! 



O Moinho da Sapata, a caminho da Sebes, lugar ícone, por sinal, em que se passava a Ribeira de Santa Eulália por umas poldras. Nostálgica paisagem que a necessidade do progresso, e dotar de melhor acessibilidade aos terrenos agrícolas fez desaparecer.
Moinho da sapata, assim se chama, e assim nos transmitia que em tempos de “então”, aqueles tempos, em que o tempo podia correr devagar, mas as pessoas procuravam sempre uma solução mais consentânea com a paisagem. A pressa, a necessidade, a redução de custos contribui para soluções, que na minha humilde opinião não foram as melhores. Sempre gostei que a paisagem fosse respeitada, numa visão orgânica, ou seja, que a intervenção humana não fosse agressiva para com o meio ambiente.
Sítio de memória de infância por onde passavam os carros de bois, e que a pé de poldra em poldra passávamos, podemos dizer, para a outra margem, o outro lado da ribeira de Santa Eulália. De verão seco viam-se as pedras, ainda restava alguma água ao fundo do açude da Sapata, mas no inverno, por vezes, a ribeira raivosa, galgava as margens, como que a afirmar o seu poderio, a lembrar da sua importância. Sabemos que a toponímia, e as construções hidráulicas ainda existentes na ribeira demonstram a sua importância para o regar dos campos permitindo uma agricultura bastante fértil, num vale beneficiado pela Mãe Natureza. Hoje vemos campos abandonados, campos que se tornaram improdutivos, porque, provavelmente, não se encontrou a cultura indicada para tornar os mesmos rentáveis. Às vezes é uma questão de “sorte”, outras vezes é uma questão de mercado, porém, será sempre uma questão de empreendedorismo e de nos ligar outra vez à terra.
A ribeira de Santa Eulália merece ser estudada, os seus açudes e, sobretudo o encanamento das águas para as terras, as horas de rega. Há toda uma história que se vai perder, da mesma forma como se perdeu o “encantamento” de determinados lugares, de lugares idílicos pejados de memórias, mas lugares de referência que poderiam ter sido olhados de outra forma, com outras soluções. Talvez sim, ou, talvez não, tudo depende, depende da questão financeira, da vontade de cada um.

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