TOCAM OS SINOS PELA LIBERDADE
Tocam os sinos pela
liberdade, a revolução apanhou-nos em dia de feira, feira em Campo de
Besteiros, em dia de quinta-feira. Soube-se que para Lisboa estava acontecer
algo, ao certo não se sabia, era um golpe de estado conduzido pelos militares. As
pessoas falavam baixo, receosas, porque apesar de vivermos “na primavera
marcelista” ainda se vivia em ditadura, de liberdade cerceada, uma ditadura
anacrónica, num país de grandes desigualdades. Sentia-se alguma abertura, mas
continuava sem solução à vista o problema da guerra colonial, arrastou-se no
tempo, em que muito antes, se deveria ter encontrado outras soluções que
possibilitasse a todos o que viviam o direito à autodeterminação.
Aguardava-se notícias pela rádio, as televisões
ainda eram poucas aqueles que as tinham. Nesse dia, as aulas pela Telescola não
aconteceram. Também foram poucos os alunos que apareceram, ao fundo da feira,
no antigo Externato Comercial para assistir às aulas. Fomos mandados para casa.
Existia o natural receio de saber ao certo o que estava realmente acontecer, os
sinos da liberdade não ecoaram de imediato, as novas eram poucas e muito
cifradas, as que chegavam.
25 de abril em que despertámos
sim, de uma longa letargia. Sim, 25 de abril, dia que se pôs fim ao Estado
Novo, já decrépito que ruía sem grande estrondo. 25 de abril, data importante da nossa história
mas só será conhecido em plenitude quando se souber o que ocorreu em 25 de
novembro. Essa data que veio coartar o caminho para outra deriva totalitária,
que alguns querem apagar.
25 de abril, sim, de
todos, não só de alguns que vão para frente do espelho a intitularem-se
democratas, alguns que querem ser “herdeiros”, mas falam grosso, e querem nos
impingir as suas ideias. 25 de abril sim, não de alguns que aparecem nos
jornais, nas televisões, que querem hoje que sejam, eles, ou os seus progenitores,
“santificados” como “defensores” da liberdade, quando nunca o foram, porque
defendiam a sua “liberdade”, aquela “liberdade” que impediu que o mundo
soubesse em devido tempo o que nos afetaria. Sim, aquela “liberdade” que
escondeu do mundo a pandemia.
25 de abril, sim e,
sempre da liberdade, da igualdade, do desenvolvimento, mas também da
descolonização fracassada, de onde “lavámos” as mãos como Pilatos. 25 de abril,
sim, do poder local, da igualdade de oportunidades através de uma educação para todos, da correção de assimetrias,
da entrada na comunidade europeia, do serviço nacional de saúde (SNS), mas infelizmente
do oportunismo, da corrupção, do caciquismo, “da falsidade”.
25 de abril multicolor,
não de uma cor que nos impingiram em laboratório, das imagens mais “habilmente”
fabricadas de uma revolução. 25 de abril, hoje, e sempre, porque “Depois do “Adeus”
nem tudo foram rosas, muita delas com espinhos.
25 de Abril, hoje e
sempre!
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