26 de abril de 2020

MEMÓRIAS DE BESTEIROS 12

EM TEMPOS IDOS NO SEIXO! 


Nas redes sociais fui sabendo novas dos meus amigos de infância, “aí Deus e o é”. Assim terminava cada verso das cantigas de amigo que apetece agora replicar, porque saudades desse tempo nos invade a memória. É sempre bom saber que estão bem, já que a roda do mundo nos afastou, faz muito tempo, mesmo muito tempo, infelizmente, deixou-nos desligados, sem sabermos mesmo “novas”. Da infância, recorda-se as brincadeiras de fim de tarde, principio de noite, por exemplo do São João, das fogueiras, das danças e cantares, no largo do Seixo como já vi referido por aqui.
O mundo podia percorrer a roda do tempo devagar, parecia mesmo que o dia tinha mais que as vinte quatro horas, e que o ano, mais que os trezentos e sessenta cinco dias, mas era como que nos afastava de alguns perigos ditados pelas “novidades” e, nos fazia saborear cada momento, como um momento único. Conhecíamos as pessoas pelo nome, outras vezes pelas alcunhas, partilhávamos histórias, os bancos da igreja, as cadeiras e mesas dos cafés, o café Guiné, o Café Central, o Café Rosete, o muro da feira ou os bancos da Praça da República. Aos domingos, de manhã assistia-se à missa, à tarde, de quinze em quinze dias, o Besteiros, o melhor clube do mundo. Conhecíamos os jogadores, eram os nossos heróis e, quando a bola beijava as redes, era o júbilo, a alegria, saltava-se no antigo campo da Neuza, o grito ecoava pelos ares, vamos lá Besteiros! Hoje, já não temos o campo da Neuza, habilmente apagado da história, nem uma rua, nem uma praça, a tal borracha que apaga uns, e enaltece outros. Enfim! Éramos uma “torcida” complicada e, quando as coisas davam para o torto, vinham reforços da fábrica Nova, alguns sarrafos de madeira, saltavam a vedação, que o diga uma vez num jogo com o S.L Nelas. Lutava-se pela bola e cada palmo de terreno era palco de autênticas batalhas. De certeza, alguns de nós, ainda se lembram, é da época desportiva de 68/69, daquele extraordinário golo do Armando Gomes ao Desportivo de Tondela. Em salto de peixe, quase rente ao chão, de cabeça fuzilou o guarda-redes tondelense.
Depois veio abril, sim, abril, que nos abriu outras portas, que mudou para melhor, o nosso mundo. Não me venham com histórias de tempos passados, porque não se pode tirar a liberdade a um povo e, hoje, quando encontro aqui nas redes sociais, discursos bafientos, incomoda, porque as palavras sem atos valem rigorosamente nada. É assim, o termos direito de manifestar livremente a nossa opinião já é abril, porque aí de nós, se ousássemos sequer discordar fosse o que fosse, noutro tempo, de outra Senhora, porque os “esbirros” andavam aí.  Conheci alguns, ex-agentes da PIDE-DGS, outros somente informadores, por isso não me venham com histórias, de tal tempo, não nos venho com boas memórias, de altruísmos ou outros que tais, porque quando se confundem as pessoas com Estado, dai não bem boa coisa.
Acrescento até, se a ditadura militar não tivesse ocorrido em 1926, quase de certeza Campo de Besteiros seria hoje sede de concelho, assim, um coronel impôs a sua vontade, ao qual a freguesia do Barreiro acrescentou a razão para que tal não acontecesse. O resto, mas o resto mesmo são histórias, outras contadas por abril, também por novembro, já que maio deixou de contar as suas.
Aos meus amigos de infância de tantas histórias partilhadas, de tantas aventuras vividas, em que bons ganhavam sempre, um grande abraço de amizade e de saudade. Para eles o rosmaninho que íamos cortar na barreira, no Seixal, hoje, Bairro de Santo António.

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