EM TEMPOS IDOS NO SEIXO!
Nas redes sociais fui
sabendo novas dos meus amigos de infância, “aí Deus e o é”. Assim terminava
cada verso das cantigas de amigo que apetece agora replicar, porque saudades
desse tempo nos invade a memória. É sempre bom saber que estão bem, já que a
roda do mundo nos afastou, faz muito tempo, mesmo muito tempo, infelizmente,
deixou-nos desligados, sem sabermos mesmo “novas”. Da infância, recorda-se as
brincadeiras de fim de tarde, principio de noite, por exemplo do São João, das
fogueiras, das danças e cantares, no largo do Seixo como já vi referido por
aqui.
O mundo podia percorrer a
roda do tempo devagar, parecia mesmo que o dia tinha mais que as vinte quatro
horas, e que o ano, mais que os trezentos e sessenta cinco dias, mas era como
que nos afastava de alguns perigos ditados pelas “novidades” e, nos fazia
saborear cada momento, como um momento único. Conhecíamos as pessoas pelo nome,
outras vezes pelas alcunhas, partilhávamos histórias, os bancos da igreja, as
cadeiras e mesas dos cafés, o café Guiné, o Café Central, o Café Rosete, o muro
da feira ou os bancos da Praça da República. Aos domingos, de manhã assistia-se
à missa, à tarde, de quinze em quinze dias, o Besteiros, o melhor clube do
mundo. Conhecíamos os jogadores, eram os nossos heróis e, quando a bola beijava
as redes, era o júbilo, a alegria, saltava-se no antigo campo da Neuza, o grito
ecoava pelos ares, vamos lá Besteiros! Hoje, já não temos o campo da Neuza, habilmente
apagado da história, nem uma rua, nem uma praça, a tal borracha que apaga uns,
e enaltece outros. Enfim! Éramos uma “torcida” complicada e, quando as coisas
davam para o torto, vinham reforços da fábrica Nova, alguns sarrafos de
madeira, saltavam a vedação, que o diga uma vez num jogo com o S.L Nelas.
Lutava-se pela bola e cada palmo de terreno era palco de autênticas batalhas.
De certeza, alguns de nós, ainda se lembram, é da época desportiva de 68/69,
daquele extraordinário golo do Armando Gomes ao Desportivo de Tondela. Em salto
de peixe, quase rente ao chão, de cabeça fuzilou o guarda-redes tondelense.
Depois veio abril, sim,
abril, que nos abriu outras portas, que mudou para melhor, o nosso mundo. Não
me venham com histórias de tempos passados, porque não se pode tirar a
liberdade a um povo e, hoje, quando encontro aqui nas redes sociais, discursos
bafientos, incomoda, porque as palavras sem atos valem rigorosamente nada. É
assim, o termos direito de manifestar livremente a nossa opinião já é abril,
porque aí de nós, se ousássemos sequer discordar fosse o que fosse, noutro
tempo, de outra Senhora, porque os “esbirros” andavam aí. Conheci alguns, ex-agentes da PIDE-DGS, outros
somente informadores, por isso não me venham com histórias, de tal tempo, não nos
venho com boas memórias, de altruísmos ou outros que tais, porque quando se
confundem as pessoas com Estado, dai não bem boa coisa.
Acrescento até, se a ditadura militar
não tivesse ocorrido em 1926, quase de certeza Campo de Besteiros seria hoje
sede de concelho, assim, um coronel impôs a sua vontade, ao qual a freguesia do
Barreiro acrescentou a razão para que tal não acontecesse. O resto, mas o resto
mesmo são histórias, outras contadas por abril, também por novembro, já que
maio deixou de contar as suas.
Aos meus amigos de infância de tantas
histórias partilhadas, de tantas aventuras vividas, em que bons ganhavam
sempre, um grande abraço de amizade e de saudade. Para eles o rosmaninho que íamos
cortar na barreira, no Seixal, hoje, Bairro de Santo António.
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