30 de março de 2020

MEMÓRIAS DE BESTEIROS





MEMÓRIAS DE BESTEIROS
 
Igreja Matriz de Santa Eulália de Besteiros
Memórias guardadas do tempo da primária, onde na escola primária de Campo de Besteiros brincava-se sem preocupações, mesmo num país que ainda não tinha desfrutado da aurora da liberdade. Um muro, não como o muro de Berlim, separava o recreio dos rapazes do recreio das raparigas. As turmas eram mistas, mas na hora do recreio, cada grupo ocupava o seu espaço. Nada de misturas, porque a moral e os bons costumes assim o exigiam, ou não sermos, na altura um país conservador.
No espaço reservado aos rapazes brincava-se aos “cobóis e os índios”, aproveitando-se os arbustos para nos escondermos dos “nossos inimigos”. Outras vezes, quando as professoras deixavam, disputavam-se partidas de futebol como autênticos derbies nacionais que escutávamos na rádio, nas tardes de domingo, entre o Sporting e o Benfica. Hoje, até isto do futebol nos foi tirado, mas aquela magia dos quase golos transformados em bola fora, a alegria de chutar às balizas, que não eram balizas. Rasgavam-se os joelhos, nas pedras e areias do recreio, sujavam-se os calções, esmurravam-se os sapatos, porque isso de sapatilha era coisa de menino rico. Qual Sanjo, alguns destemidos era mesmo a pé descalço, as pedras que se desviassem, porque no momento em que a bola aparecia à frente, à força para que vos quero. Mais tarde de bata vestida, todos ficavam iguais preparados para lição e sempre com temor da menina-de-cinco-olhos. Que “boas” lições ela dava, alguma violência à mistura, quase sempre os mesmos a sofrerem dela.
 O WC, ou casa de banho, coisa chique, ou então em termos bem portugueses, a retrete ou então a latrina era a famosa, aquela de buraco no chão, que vendo bem as coisas não criava grandes problemas de higiene.
Mas o que se gostava mesmo era da bola, dos pontapés da bola, mas só em alguns dias, não fosse, a mesma, teimosa partir os vidros das janelas, e aí, a tragédia instalava-se. A bola ficava em prisão domiciliária e o “desgraçado” do último pontapé tinha castigo pela certa, e todos tínhamos umas semanas de provação sem as habituais futeboladas.

Um comentário:

Rui Manuel Furtado Bezerra disse...

No livro de Paulo Sá Machado (Tondela através dos tempos, 3ª ed. 2006) esta foto da igreja vem com a seguinte legenda:
1930
Edição Gil Augusto dos Santos Úria
Sucr. e POS'TEU António Coimbra
Sucr. Mário Sousa Coimbra
Campo de Besteiros
Não sei se este Gil Augusto é o meu bisavô. Este meu bisavô tinha um comércio no Campo de Besteiros. Sei que o avó do cantor Samuel Úria também tem esse nome. São ambos descendentes dos Úrias de Torredeita.

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