MEMÓRIAS DE
BESTEIROS
Memórias guardadas do
tempo da primária, onde na escola primária de Campo de Besteiros brincava-se
sem preocupações, mesmo num país que ainda não tinha desfrutado da aurora da
liberdade. Um muro, não como o muro de Berlim, separava o recreio dos rapazes
do recreio das raparigas. As turmas eram mistas, mas na hora do recreio, cada
grupo ocupava o seu espaço. Nada de misturas, porque a moral e os bons costumes
assim o exigiam, ou não sermos, na altura um país conservador.
No espaço reservado aos
rapazes brincava-se aos “cobóis e os índios”, aproveitando-se os arbustos para
nos escondermos dos “nossos inimigos”. Outras vezes, quando as professoras
deixavam, disputavam-se partidas de futebol como autênticos derbies nacionais
que escutávamos na rádio, nas tardes de domingo, entre o Sporting e o Benfica. Hoje,
até isto do futebol nos foi tirado, mas aquela magia dos quase golos
transformados em bola fora, a alegria de chutar às balizas, que não eram
balizas. Rasgavam-se os joelhos, nas pedras e areias do recreio, sujavam-se os
calções, esmurravam-se os sapatos, porque isso de sapatilha era coisa de menino
rico. Qual Sanjo, alguns destemidos era mesmo a pé descalço, as pedras que se
desviassem, porque no momento em que a bola aparecia à frente, à força para que
vos quero. Mais tarde de bata vestida, todos ficavam iguais preparados para
lição e sempre com temor da menina-de-cinco-olhos. Que “boas” lições ela dava,
alguma violência à mistura, quase sempre os mesmos a sofrerem dela.
O WC, ou casa de banho, coisa chique, ou então
em termos bem portugueses, a retrete ou então a latrina era a famosa, aquela de
buraco no chão, que vendo bem as coisas não criava grandes problemas de higiene.
Mas o que se gostava
mesmo era da bola, dos pontapés da bola, mas só em alguns dias, não fosse, a
mesma, teimosa partir os vidros das janelas, e aí, a tragédia instalava-se. A
bola ficava em prisão domiciliária e o “desgraçado” do último pontapé tinha
castigo pela certa, e todos tínhamos umas semanas de provação sem as habituais
futeboladas.
Um comentário:
No livro de Paulo Sá Machado (Tondela através dos tempos, 3ª ed. 2006) esta foto da igreja vem com a seguinte legenda:
1930
Edição Gil Augusto dos Santos Úria
Sucr. e POS'TEU António Coimbra
Sucr. Mário Sousa Coimbra
Campo de Besteiros
Não sei se este Gil Augusto é o meu bisavô. Este meu bisavô tinha um comércio no Campo de Besteiros. Sei que o avó do cantor Samuel Úria também tem esse nome. São ambos descendentes dos Úrias de Torredeita.
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