Viseu, rio Pavia |
Da imagem refletida na água, não parte do real, como de um
mundo onde reina o fingimento, de ser, o que não se é, de ter, o que não se
tem, de dar o que não se dá…
Alguns eram em tempos atrás heróis, enaltecidos, de grandes
feitos, principescamente pagos, os jornais escreviam encómios quase a metro, de
títulos garrafais como o único, admirável, o melhor CEO da Europa, do Mundo
quiçá…Sempre gostámos de ser os melhores, nem que não seja na carica, e na
bisca lambida. Depois, deixamos de olhar para água e vemos o real, diferente,
já não espelhado, mais duro, reduzidos a uma escala pequena, do fracasso, da
vergonha, de quase ver por terra, aquilo que seria o orgulho nacional…
As imagens mantêm-se ou se alteram com o ritmo das chuvas, de
um fenómeno que desresponsabiliza, numa época em que a palavra já não é
palavra, algumas levadas pelo vento, outras ficam no silêncio da penumbra, na
angústia dos dias, da procura do devir sem nunca o encontrar.
De memória, alguns ainda sabem, de memória alguns ainda
lembram, de memória muitos se esquecem, esperando que a poeira apague as
pegadas que ficam de tempos imemoriais, por vezes, o silêncio é de ouro que não
se resume a um copo de três, ou a um uísque nas tabernas modernas, onde a imundície
não se encontra no chão, mas dentro da alma de cada um. Assim vemos ruir tudo
como um castelo de cartas, onde real não é, nem poderá ser a imagem refletida
na água.
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