12 de julho de 2020

MEMÓRIAS DE BESTEIROS 23


EM NOITE DE TROVOADA...

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/raio-rel%C3%A2mpago-trovoada-condi%C3%A7%C3%B5es-1905603/

Isto da trovoada e de chuva da trovoada ou então a trovoada seca parece coisa do diabo. Parece que anda tudo de reviralho, os pássaros como que enlouquecem, tentam voar, mas são arrastados para trás, devido a rabanadas de vento que fazem andar tudo em redemoinho. O povo, como sempre, na sua sabedoria, o afirma» Chuva de Julho que não faça barulho”. Tem sempre razão, a experiência de ver o horizonte, porque para além de poder trazer consigo o granizo, a chuva tem de cair mansinha para não fazer estragos.  

Trovoada sempre me incomodou e dela guardo respeito e no vale de Besteiros, quando a mesma incidia sobre ele, rogava-se a Santa Bárbara, em casa, também se tinha o ramo de louro ou a água benta para nos proteger, por vezes incendiava-se um ramo de oliveira. As janelas abriam-se para que se o raio entrasse tivesse sítio para poder sair.

Se estivéssemos atentos, na casa de cada um ouvia rezar baixinho, mas a cada trovão forte, as vozes levantavam-se em clamor:

“Santa Barbara pequenina
Se vestiu e calçou
Seu caminho caminhou
Jesus encontrou
E Ele perguntou
Barbara, onde vais?
Senhor, vou para o céu,
Abrandar a trovoada
Que sobre nós anda armada
Manda para o monte do rosmaninho,
Onde não haja pão e vinho
Nem ramo, nem maneira
Nem folhinha de Oliveira.”

“São Gregório se vestiu e calçou
No caixilhinho pegou
Nosso Senhor encontrou
Nosso senhor lhe perguntou
Onde vais São Gregório?
Vou levar esta trovoadinha
Então leva-a para bem longe
Onde não haja pão nem vinho
Nem raminho de figueira
Nem nada que o Senhor queira.”

“Santa Barbara bendita
Que no céu está escrito
Com raminho de água benta
A pedir ao Senhor
Que nos abrande esta tormenta.”

 

Joaquim Calheiros


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