Bairro de Santo António,
uma história do lugar!
Vista Geral de Campo de Besteiros, em que se inclui o Bairro de Santo António: Foto Joaquim Duarte |
Dizem alguns, que os
lugares fazem os homens, aqui não, os homens refizeram este lugar. De Seixal,
de nome, ganhou forma e gente e, transformou-se em Bairro de Santo António, por
vontade própria, da vontade daqueles que escolheram aquele lugar para viver. Ainda
me lembro, uma placa de madeira, rústica por sinal, tinha escrito Bairro de Santo
António, de boca em boca foi passando e ganhando “nome”, e tomou o espaço,
puxou-o para si, dando-lhe sentido. Assim se fazem os lugares que se moldam a
quem lá vive e lhe dá “ethos”, unicidade que se distingue de outros sítios,
porque aquele sítio é de gente que tem identidade, a construiu e transmitiu-a ao
lugar que escolheu para viver. Cresceu, fez-se grande e das poucas casas
iniciais, ganhou volume. Hoje, quando regresso e, se por acaso, circulo por
aquelas ruas, quase que não o conheço. Antes, para chegar era por caminho de
carros de bois, pelos quatro acessos que dispunha utilizados como acesso aos
terrenos agrícolas. Da paisagem bucólica, quase que lunar proporcionada pelos
poços da Barreira, sítio de onde se extraia barro para a cerâmica da Sercebel,
que depois no Inverno se enchia de água das chuvas com os perigos aí
decorrentes. De Seixal, Barreira, para além do Cemitério que naqueles metros
quase que se batia o record de velocidade, sem sequer se olhar para o lado,
porque a noite era escura e os dois mundos encontravam-se aí. Mundo de sombras
que pareciam que ganhava asas e corriam como que atrás de nós. Riso hoje, como
aquela história da Avó Adelina e da Maria do Tourigo desaparecidas, quando elas
se encontravam numa amena cavaqueira nos dois bancos de entrada do Cemitério,
que, entretanto, tinha sido fechado à chave, sem sequer verificaram que ainda
havia pessoas no espaço interior.
As memórias ficam,
principalmente as memórias de criança, ou de jovem. As memórias de uma célebre
queda de bicicleta, em que apesar de esfolado, os ovos conservaram-se intactos.
Ao menos os ovos! Outra queda, já em direção ao Campo depois de ultrapassar um
carro de vacas, nos estatelámos à frente, assustando os animais. O agricultor,
famoso de preferir esfolar um dedo do que dar cabe de umas botas, ripa da
aguilhada e ia varada, se entretanto, não dessemos às vilas Diogo. Mas essas
são histórias, como da cantiga, só nós “os dois é que sabemos”, o outro dos
dois, sempre foi para mim como um irmão de quem tenho muitas saudades,
principalmente por não o abraçar, faz anos! É vida!
Joaquim Calheiros
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