Sempre com alguma
nostalgia que olho para o lavadouro público de Campo de Besteiros. Recordo
tempos de meninice, daquele tempo em que o tempo corria muito devagar, em que
as máquinas de lavar roupa era coisa das “estranjas”, nem mesmo as casas ricas
do vale a teriam, porque isto de roupa lavada, não era para qualquer uma “máquina”,
tinha de ser tudo a preceito, ou seja, cheirar a lavado.
De
manhã, ou ao fim da tarde, o lavadouro enchia-se de mulheres para a a sua
tarefa semanal, ao mesmo tempo que as crianças se espalhavam pelo recinto da
feira. Mais tarde, bastante próximo do lavadouro, mesmo defronte, um parque
infantil para os petizes ficarem debaixo de olho e darem azo às suas brincadeiras
sempre com uns riscos “nos cromados”. Às vezes era preferível, do que um rasgão
nas calças.
Era
ali que se sabiam as noticias “frescas”, o “diz-se que disse”, aquelas
histórias que alguns queriam esconder. “Tu sabes o que anda fazer a filha do…”,
ou então “ a filha de sicrana já fala com…”. Por vezes, estas “estórias” sussurradas,
ditas entredentes, estórias de alcova de fazer “corar” as pedras da calçada,
talvez se tenha formado daí a ideia de “lavar roupa suja”.
Mas isto de lavar roupa
num lavadouro público não era assim tão fácil. Havia como que uma hierarquia,
tentava-se chegar cedo, para ser a primeira, para ficar próxima do “lavadouro”,
ou seja, do sítio da bica. Assim apanhava-se a água límpida, as outras, talvez
que gostassem mais da cama, tinham de contentar-se em ficar a seguir e lavar
com a água que a primeira já tinha utilizado. Outras vezes, as mais velhas, a
anciã tinha direito à “primeira água”, questões de idade, embora “as mais novas”
não gostassem muito, mas assim mandava as regras comunitárias. A idade sempre
era um “estatuto”.
Para
além das estórias cantava-se, alegrava-se o ambiente enquanto o sabão rosa que era
o companheiro inseparável as ajudava na tarefa de por a roupa limpa. Aqui no
lavadouro público ou no Mourão, embora o Mourão tivesse outras vantagens,
porque permitia que estendesse junto ao rio a roupa a corar.
Aqui, ficaram muitas
histórias, mesmo muitas memórias, muito do que era Campo de Besteiros.
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