3 de maio de 2020

MEMÓRIAS DE BESTEIROS 15


FESTA DO SENHOR DO CALVÁRIO



Os foguetes, ainda a alvorada estava a dar os primeiros passos estrelejavam no ar como a chamar os cristãos para a festa, a festa da Cruz, a festa de três de maio, o Senhor do Calvário. Provavelmente seria a festa religiosa da freguesia de Santa Eulália de Besteiros que mais pessoas atraia para o monte. Mais recente que a festa de Nossa Senhora do Campo talvez tenha ganho a dianteira, pelo menos é o que se depreende com as descrições das duas festas há cerca de cem anos. Este ano, a festa do três de maio seria mesmo a três de maio. Parece um trocadilho, mas é verdade. A festa da Cruz foi alterada para o primeiro domingo de maio, tornou-se uma festa móvel. Coincide assim com o dia da mãe e, em parte, alterou um pouco o cariz da festa tradicional.
Este ano seria dia grande, porque era mesmo o três de maio seria mesmo no dia 3, subia-se ao monte, ao Monte do Calvário e como tantos nossos antepassados com maior ou menor dificuldade subiríamos o monte em procissão e rezaríamos ao senhor do calvário. Mesmo sem festa, isto não nos impede, no sitio onde estivermos pensarmos um pouco na festa e, sobretudo, da sua importância para o povo do vale de Besteiros. De há cerca de 100 anos, mais precisamente, 97 anos uma descrição pitoresca veio expressa no jornal concelhio, Folha de Tondela.
“As nove da manhã saiu a procissão da igreja matriz em direção ao Calvário com alguns andores, muitos devotos que, com hábitos especiais, iam cumprir promessas”. Na sua passagem pelos povos do Seixo e do Campo, assinalar que a capela era, na altura localizada fora do povoado “quase todas as janelas encontravam-se ornamentadas com colchas de várias cores […] e de onde caiam enorme chuva de flores que raparigas de bom gosto tinham previamente preparado”. Nesse percurso existiam palanques construídos em madeira, ornamentados com colchas, em que meninas deitavam por cima da procissão inúmeras flores, ou não estarmos, no mês de maio.
“A subida da procissão pelo lado da ladeira do Calvário era deslumbrante”, que encantava quem estava a assistir. Chegados à capela decorria em seguida a missa com um sermão a preceito, porque tal era a quantidade de peregrinos. Mais tarde, estendiam-se pelo monte e compartilhavam os farnéis, num momento de união e convívio. Da parte da tarde ocorreu o arraial com inúmeras pessoas, vindas de todo vale e arredores que se deliciaram com a música da Filarmónica de Molelos.
Esta descrição vem confirmar que o três de maio era vivido com intensidade e com muita devoção particular pelo Senhor do Calvário.

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