FESTA DO SENHOR DO CALVÁRIO
Os foguetes, ainda a
alvorada estava a dar os primeiros passos estrelejavam no ar como a chamar os
cristãos para a festa, a festa da Cruz, a festa de três de maio, o Senhor do
Calvário. Provavelmente seria a festa religiosa da freguesia de Santa Eulália de
Besteiros que mais pessoas atraia para o monte. Mais recente que a festa de
Nossa Senhora do Campo talvez tenha ganho a dianteira, pelo menos é o que se depreende
com as descrições das duas festas há cerca de cem anos. Este ano, a festa do
três de maio seria mesmo a três de maio. Parece um trocadilho, mas é verdade. A
festa da Cruz foi alterada para o primeiro domingo de maio, tornou-se uma festa
móvel. Coincide assim com o dia da mãe e, em parte, alterou um pouco o cariz da
festa tradicional.
Este ano seria dia
grande, porque era mesmo o três de maio seria mesmo no dia 3, subia-se ao
monte, ao Monte do Calvário e como tantos nossos antepassados com maior ou
menor dificuldade subiríamos o monte em procissão e rezaríamos ao senhor do
calvário. Mesmo sem festa, isto não nos impede, no sitio onde estivermos
pensarmos um pouco na festa e, sobretudo, da sua importância para o povo do
vale de Besteiros. De há cerca de 100 anos, mais precisamente, 97 anos uma descrição
pitoresca veio expressa no jornal concelhio, Folha de Tondela.
“As nove da manhã saiu a
procissão da igreja matriz em direção ao Calvário com alguns andores, muitos
devotos que, com hábitos especiais, iam cumprir promessas”. Na sua passagem pelos
povos do Seixo e do Campo, assinalar que a capela era, na altura localizada
fora do povoado “quase todas as janelas encontravam-se ornamentadas com colchas
de várias cores […] e de onde caiam enorme chuva de flores que raparigas de bom
gosto tinham previamente preparado”. Nesse percurso existiam palanques construídos
em madeira, ornamentados com colchas, em que meninas deitavam por cima da
procissão inúmeras flores, ou não estarmos, no mês de maio.
“A subida da procissão
pelo lado da ladeira do Calvário era deslumbrante”, que encantava quem estava a
assistir. Chegados à capela decorria em seguida a missa com um sermão a
preceito, porque tal era a quantidade de peregrinos. Mais tarde, estendiam-se
pelo monte e compartilhavam os farnéis, num momento de união e convívio. Da
parte da tarde ocorreu o arraial com inúmeras pessoas, vindas de todo vale e
arredores que se deliciaram com a música da Filarmónica de Molelos.
Esta descrição vem
confirmar que o três de maio era vivido com intensidade e com muita devoção
particular pelo Senhor do Calvário.
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