Miguel Sousa faz da madeira brotar a arte!
Após
ter publicado no Jornal de Tondela, divulgo aqui, no blogue
CampoBesterios.Online um espaço de memórias, um baú de histórias, em que todos
besteirenses tem espaço e merecem ser divulgados. Aquilo que o Miguel faz é
arte, autêntica arte.
Conheço o Miguel Sousa desde pequeno, desconhecia, porém, a
sua habilidade para trabalhar a madeira, o seu talento. Natural de Campo de
Besteiros, onde cresceu é atualmente de profissão motorista de autocarros de
Turismo, trabalha em Inglaterra, mais precisamente, em Londres.
Descobri, por acaso, nas redes sociais algumas publicações
feitas pelo Miguel, de algumas peças em madeira construídas por um autêntico
artesão. Trabalhar em madeira é uma arte, de uma peça em bruto, lasca a lasca,
o artesão com as suas ferramentas vai dando-lhe forma e, naquela peça está
muito de si, do seu sentir, da sua forma de ver o mundo e a arte. É este
artesão, Miguel Sousa, besteirense, artesão, não de profissão, mas de “arte e
engenho” que procuramos numa pequena entrevista para Jornal de Tondela
conhecer, cientes que há trabalhos que realizou em madeira que merecem ser
divulgados pela sua beleza e criatividade.
Jornal
de Tondela - Como é que começou o gosto para trabalhares
a madeira?
Miguel Sousa - No seio da minha família existia a
tradição de alguns familiares trabalharem a madeira, mas, na verdade nunca
manifestei vontade de seguir essa profissão. Um dia, por acaso, vi um individuo
de Molelos a fazer uns trabalhos em talha, sensibilizado pela arte, pela beleza
das peças, inspirou-me a tentar, afinal, encontrava-se dentro de mim, o gosto
por trabalhar a madeira. Não sei precisar quando, encontrei em Caparrosa uns
paus que devido à chuva estavam com a cor avermelhada. Estava um senhor comigo
que era entendido no assunto, disse-me que era madeira de choupo, normalmente
era utilizada para fazer tamancos. Levei três paus para casa e à noite, à
lareira com uma faca de cozinha construiu o meu primeiro objeto de madeira. A
partir daí nunca mais parei, mesmo depois de vir para Inglaterra.
J.T
- Quais são as ferramentas que utilizas?
M.S.
- Tenho a minha caixa de ferramentas, mas todas para
trabalho manual. Uso algumas
goivas, facas mas tudo, saliento é trabalho manual,
J.T
- Trabalhas a madeira em bruto, transformá-la em novas
formas, o que representa para ti esse trabalho?
M.S.
- Por vezes estou
semanas sem fazer nada, mas quando começo e aquele pedaço de madeira começa a
ganhar forma, não consigo parar, e um “vício terrível”, mas é daqueles vícios
que dá gosto, o fazer nascer uma peça!
J.T
- Quais são as tuas fontes de inspiração, ou que
representas com as tuas peças?
M.S.
- Normalmente
faço peças religiosas, também do corpo humano e animais. Mas adoro fazer
algumas peças em que reproduzo, sendo mesmo como uma fonte de inspiração os
escultores renascentistas italianos, Bernini, Miguel Ângelo. Sempre tentei usar as proporções corretas
e sinto que continuo a evoluir de peça para peça! Por vezes assusta estar com
uma faca a cortar e, mas quando se começa a descortinar a forma, é sublime,
inspirador! É difícil de explicar!
J.T
- Como arranjas a madeira para a trabalhares?
M.S.
- Não é fácil
encontrar madeira no centro de Londres, mas sempre aparece um pau ou uma perna
de mesa, ou outros pedaços de madeira, ando sempre atento àquilo que a natureza
nos oferece.
M.S.
- Apesar de dizer a
toda a gente que faço todos os pedidos, a verdade é que não os faço e, muito
menos para vender, ou para oferecer. Contam-se pelos dedos de uma mão os que
dei e, apesar de ter vendido somente uma peça estou arrependido de o ter feito
até hoje, preferia a ter dado! Não me consigo separar das peças, a não ser que
faça como fiz em oliveira, o símbolo da freguesia de Campo de Besteiros para a
minha irmã, porque foi começado com esse objetivo!
J.T
- Trabalhas a madeira, ocupas assim o teu tempo de lazer.
M.S.
- Em casa não, não
faço nada. Tudo o que faço é durante as horas de trabalho que como condutor de
autocarro de turismo tenho muito tempo livre durante as visitas e sempre ando
acompanhado com as minhas ferramentas! Assim ocupo o tempo de uma forma que eu
considero útil, não sentindo as horas a passar.
J.T
- já fizeste alguma mostra dos teus trabalhos?
M.S.
- Faz
muitos anos que mostrei ao público, somente por uma vez, os meus trabalhos, na
FICTON, mas desde aí, nunca mais tive nada exposto.
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