2 de maio de 2020

BESTEIRENSES PELO MUNDO





Miguel Sousa faz da madeira brotar a arte!








Após ter publicado no Jornal de Tondela, divulgo aqui, no blogue CampoBesterios.Online um espaço de memórias, um baú de histórias, em que todos besteirenses tem espaço e merecem ser divulgados. Aquilo que o Miguel faz é arte, autêntica arte.
Conheço o Miguel Sousa desde pequeno, desconhecia, porém, a sua habilidade para trabalhar a madeira, o seu talento. Natural de Campo de Besteiros, onde cresceu é atualmente de profissão motorista de autocarros de Turismo, trabalha em Inglaterra, mais precisamente, em Londres.
Descobri, por acaso, nas redes sociais algumas publicações feitas pelo Miguel, de algumas peças em madeira construídas por um autêntico artesão. Trabalhar em madeira é uma arte, de uma peça em bruto, lasca a lasca, o artesão com as suas ferramentas vai dando-lhe forma e, naquela peça está muito de si, do seu sentir, da sua forma de ver o mundo e a arte. É este artesão, Miguel Sousa, besteirense, artesão, não de profissão, mas de “arte e engenho” que procuramos numa pequena entrevista para Jornal de Tondela conhecer, cientes que há trabalhos que realizou em madeira que merecem ser divulgados pela sua beleza e criatividade. 
Jornal de Tondela - Como é que começou o gosto para trabalhares a madeira?
Miguel Sousa - No seio da minha família existia a tradição de alguns familiares trabalharem a madeira, mas, na verdade nunca manifestei vontade de seguir essa profissão. Um dia, por acaso, vi um individuo de Molelos a fazer uns trabalhos em talha, sensibilizado pela arte, pela beleza das peças, inspirou-me a tentar, afinal, encontrava-se dentro de mim, o gosto por trabalhar a madeira. Não sei precisar quando, encontrei em Caparrosa uns paus que devido à chuva estavam com a cor avermelhada. Estava um senhor comigo que era entendido no assunto, disse-me que era madeira de choupo, normalmente era utilizada para fazer tamancos. Levei três paus para casa e à noite, à lareira com uma faca de cozinha construiu o meu primeiro objeto de madeira. A partir daí nunca mais parei, mesmo depois de vir para Inglaterra.
J.T - Quais são as ferramentas que utilizas?
M.S. - Tenho a minha caixa de ferramentas, mas todas para trabalho manual. Uso algumas goivas, facas mas tudo, saliento é trabalho manual,
J.T - Trabalhas a madeira em bruto, transformá-la em novas formas, o que representa para ti esse trabalho?
M.S. - Por vezes estou semanas sem fazer nada, mas quando começo e aquele pedaço de madeira começa a ganhar forma, não consigo parar, e um “vício terrível”, mas é daqueles vícios que dá gosto, o fazer nascer uma peça!
J.T - Quais são as tuas fontes de inspiração, ou que representas com as tuas peças?
M.S. - Normalmente faço peças religiosas, também do corpo humano e animais. Mas adoro fazer algumas peças em que reproduzo, sendo mesmo como uma fonte de inspiração os escultores renascentistas italianos, Bernini, Miguel Ângelo. Sempre tentei usar as proporções corretas e sinto que continuo a evoluir de peça para peça! Por vezes assusta estar com uma faca a cortar e, mas quando se começa a descortinar a forma, é sublime, inspirador! É difícil de explicar!
J.T - Como arranjas a madeira para a trabalhares?
M.S. - Não é fácil encontrar madeira no centro de Londres, mas sempre aparece um pau ou uma perna de mesa, ou outros pedaços de madeira, ando sempre atento àquilo que a natureza nos oferece.
J.T - Dos trabalhos que já concluíste, qual deles tem para ti mais significado?
M.S. - Apesar de dizer a toda a gente que faço todos os pedidos, a verdade é que não os faço e, muito menos para vender, ou para oferecer. Contam-se pelos dedos de uma mão os que dei e, apesar de ter vendido somente uma peça estou arrependido de o ter feito até hoje, preferia a ter dado! Não me consigo separar das peças, a não ser que faça como fiz em oliveira, o símbolo da freguesia de Campo de Besteiros para a minha irmã, porque foi começado com esse objetivo!
J.T - Trabalhas a madeira, ocupas assim o teu tempo de lazer.
M.S. - Em casa não, não faço nada. Tudo o que faço é durante as horas de trabalho que como condutor de autocarro de turismo tenho muito tempo livre durante as visitas e sempre ando acompanhado com as minhas ferramentas! Assim ocupo o tempo de uma forma que eu considero útil, não sentindo as horas a passar.
J.T - já fizeste alguma mostra dos teus trabalhos?
M.S. - Faz muitos anos que mostrei ao público, somente por uma vez, os meus trabalhos, na FICTON, mas desde aí, nunca mais tive nada exposto.  

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