Hoje, dia Mundial da
Língua Portuguesa, expresso o meu orgulho em ser português, falar, escrever,
mas sobretudo, pensar em português. Esta pátria ditosa, este “cantinho à beira-mar
plantado”, este “ricão lusitano”, nos encanta e molda aquele jeito de ser português,
muitas vezes, no desenrasca, aquele de conhecer um amigo que tem outro amigo
que…esse jeito, em que o todo não é obstáculo, mesmo que esse todo não seja
nada.
As cores da nação, a
língua, o sol, o mar, o ar puro das montanhas que nos inebria, é esse todo que
nos define como povo. E assim, o que melhor nos define, é o amor que temos pelo
“rio da nossa aldeia”, ou seja, o nosso pequeno país. Assim o lemos neste poema
de Fernando Pessoa:
"Tejo é mais belo que o rio que corre pela
minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha
aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele".
7-3-1914
“O Guardador de Rebanhos”.
In Poemas
de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946 (10ª
ed. 1993).p. 46.
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