DOMINGO DE RAMOS EM BESTEIROS
Entrávamos, ou entramos,
na Semana Maior do Cristianismo. O vale de Besteiros, em tempos de antanho,
florido, como se alegrava para esse dia, esse Domingo de Ramos. Para mim,
quando criança, como de certeza para muitos de nós, aquele Domingo era mágico,
único, diferente. Nos dias anteriores escolhia-se o ramo de loureiro,
aprimoravam-se os pormenores, porque naquele Domingo não se ia de mãos vazias
para a Igreja. Os ramos enfeitados com flores, e havia sempre um que
impressionava pelo seu porte, grandioso que incomodava, o senhor Padre. Todos
os anos estávamos à espera para ver o seu tamanho, quase sempre era obrigado a
ficar no espaço exterior da Igreja Matriz de Santa Eulália, mas que era um
gosto de vê-lo, era, impante, altaneiro.
Antes das onze horas, o
local da reunião era o Santuário de Nossa Senhora do Campo. Guardo na memória
ainda essas imagens. O santuário, na altura, ainda bastante degradado ganhava
nova vida, com os ramos, com as flores, a alegria das crianças e jovens. Do
lado direito, ao pé do altar estavam pequenos ramos cortados na véspera, no
caminho para Vila de Rei, que as pessoas mais tarde levariam para casa. Ramos
em conjunto com os outros transportados por nós iriam ser benzidos, mais tarde
colocados atrás da porta com uma função protetora. Saídos em procissão para
Igreja Matriz pela rua da Nossa Senhora do Campo subíamos ao Seixo e dirigíamo-nos
à Igreja. Era tudo bem diferente, embora a prédica do senhor Padre nos
exortasse à penitência, à oração, à mudança de comportamentos, o que importava
mesmo nesse dia era o ramo.
Dessa memória, desses
momentos que pelos vistos como se escreve muito agora, “éramos felizes, mas não
nos apercebíamos disso”. Talvez fossemos, sim, talvez, fossemos, apesar de se
viver numa vila do interior do país, num vale ruralizado, mas de beleza única,
o nosso vale, a nossa serra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário