FESTA DE NOSSA SENHORA
DO CAMPO – SEISCENTOS ANOS DE HISTÓRIA
Oito de setembro, dia de festa, dia grande da
região de Besteiros, dia em que se realiza a festa de Nossa Senhora do Campo.
Segundo refere Frei Agostinho, na sua obra monumental dedicada aos Santuários
Marianos esta festa realiza-se há cerca de seiscentos anos, desde a dinastia de
Avis, na centúria de quatrocentos. De certeza é uma das festas mais antigas,
senão a mais antiga das Terras de Besteiros que hoje integra o atual concelho
de Tondela.
Escrever sobre a festa de Nossa Senhora do
Campo é escrever com um misto de saudade de tempos idos, de já não ver pessoas
que partiram, mas ao mesmo tempo é voltar às origens, e participar numa festa
única na nossa memória coletiva. Consciente de não ver as multidões de outrora,
e quando falo de outrora, falo de entre o século quinze e o século vinte, na
altura, era o santuário mariano mais importante do bispado de Viseu. Frei
Agostinho refere que era o mais concorrido em que uma multidão de peregrinos vinha
de bastante longe, de sítios difíceis de pronunciar, mesmo para além da serra
com muitas horas de viagem. Hoje, apesar de não vermos essas multidões, ainda é
significativo o número de besteirenses presentes e empenhados em prestar
homenagem a Nossa Senhora do Campo, participando nas cerimónias com devoção.
Dia quente, mas com uma temperatura bastante
suportável, o Santuário de Nossa Senhora do Campo embelezado com primor pelas
mordomas, foi pequeno para os besteirenses presentes que mais tarde participaram
na procissão que percorreu as ruas da vila de Campo de Besteiros.
Este ano reviveu-se a história ao realizar-se
no fim da celebração da Sagrada Eucaristia a bênção das colheitas que se
encontravam expostas em frente do santuário, conforme relatos dos mais antigos.
Às onze iniciou-se a Eucaristia onde o pároco
Felisberto realçou que neste dia se festejava a Natividade de Nossa Senhora e a
importância do papel de ser mãe. No fim da Eucaristia, após o momento
significativo da nomeação dos novos mordomos saiu a procissão que percorreu a
Rua de Nossa Senhora do Campo em direção ao Seixo com os pendões à frente, e
depois os andores carregados aos ombros e magnificamente enfeitados. Em
primeiro lugar ia o andor de Nossa Senhora das Graças, em segundo, o andor de
Nossa Senhora do Carmo e por último, o andor de Nossa Senhora do Campo
carregado aos ombros pelas mordomas. Chegada a procissão ao cruzamento com a
avenida de Santa Eulália, desceu em direção à Avenida Dr. Afonso Costa
percorrendo-a até ao fim do parque de Campo de Besteiros, regressando à capela
de Nossa Senhora do Campo através da rua ator Alves da Silva, dando uma volta
ao Santuário e recolhendo-se em seguida.
Olhar para esta festa de Nossa Senhora do
Campo é olhar para uma festa que por direito próprio deveria ser uma das
maiores festas religiosas do concelho que em tempos idos tinha acoplada a si
uma feira franca de grande importância para a região. Mas voltar ao Campo é
voltar a nossa terra, rever caras conhecidas, ou conhecer outras de outros
espaços, mas todas com um denominador comum que é gostar de Campo de Besteiros,
das suas tradições, das suas memórias. Vimos as tortas, vimos os tremoços,
vimos os gloriosos viriatos, vimos as cavacas.
Vimos
também uma pequena exposição a lembrar a famosa feira da semente em que os
agricultores se afadigavam em comprar a melhor erva para semear no meio dos
milheirais, onde estavam diferentes produtos saídas da terra, e outros
importantes no quotidiano do agricultor. Também estiveram expostos os
magníficos trabalhos em madeira do José Godinho, um artista com as mãos de
qualidade impar. É justo o agradecimento ao Jorge Marques, Adelino Santos, João
Figueiredo, José Manuel da Ribeira e ao José Manuel Godinho.
A
tradição deve ser o que era, e devemos ter consciência que esta festa religiosa
tem uma proveta idade de cerca de seiscentos anos, sendo uma das mais antigas
do país que se realiza de forma ininterrupta. Preservá-la deve ser uma missão
de cada besteirense.
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