CAMINHO
DE SANTIAGO – DIÁRIO DE UMA PEREGRINA –parte IV
7h da manhã de terça-feira 15/04 prontos para a última
etapa da caminhada a que nos propusemos. Era ainda de noite o que não deu para
“saborear” a beleza de um bosque por onde passámos, mas que dava para perceber
que à luz do dia seria muito bonito.
Desta vez encontrámos um grupo de 21 jovens da zona
do Porto que já iam muito cansados, as mochilas eram muito pesadas porque
estavam a fazer o caminho em autonomia sem carro de apoio. Dormiam mal, pois
não conseguiam arranjar camas nos albergues chegando mesmo a dormir à porta dos
pavilhões. Às 8h da manhã nós tínhamos um ar relativamente fresco e aqueles
jovens de 15, 16 e 17 anos quase que se arrastavam. Uma sensação estranha, pois
apesar de os vermos assim eles diziam que estavam bem – O querer é TUDO mesmo.
Ficaram por Padrón para descansar. Nós seguimos o nosso caminho.
A temperatura estava mais amena o que ajudou
bastante na etapa derradeira.
Depois de muitos quilómetros por entre aldeias,
bosques, pinhais, terras de cultivo avistámos Santiago de Compostela. Um misto
de sentimentos… é já ali, mas ainda falta um pouco.
Os últimos passos até à chegada à praça são um
turbilhão de emoções.
Finalmente a praça e a Catedral! CHEGÁMOS! Objetivo
cumprido! Orgulho de mim mesma! Para todo o lado que olhava via peregrino a
chegarem. Um sentimento de paz, alegria, orgulho…tudo junto sem saber bem
explicar…
Não posso dizer que tenha sido o concretizar de um
sonho mas quase, pois desde muito nova que dizia que gostaria de o fazer. E
agora está feito e sinto-me Feliz!
Ainda faltava uma coisa. Desde que saímos de
Portugal que levávamos connosco a Credencial do Peregrino que tínhamos que ir
carimbando pelos locais por onde passávamos (albergues, capelas/igrejas,
cafés…). É esta Credencial que comprova que fizemos o caminho e que permite
dormir em albergues da junta de freguesia. É com a credencial e os carimbos que
conseguimos obter a “Compostela” – o Certificado passado pela Oficina do
Peregrino.
Quando estava à porta da Oficina para obter a minha
“Compostela” chegou o grupo de 21 jovens da zona do Porto. Senti uma alegria
quando os vi. Depois de ter testemunhado, o esforço que faziam no dia anterior
e agora estavam ali… felizes por terem chegado. O chefe deles reuniu-os e
disse-lhes “Pessoal chegámos e estou orgulhoso de vocês!” Aquelas palavras
emocionaram-me e tive de respirar fundo para que as lágrimas não surgissem,
pois também tinha passado por o mesmo horas antes.
No final de toda a caminhada o balanço que faço é
claramente positivo.
Vale pela experiência única, o companheirismo e
entreajuda, a boa disposição e no final o sentimento de dever cumprido. Objetivo
atingido quer a nível físico, quer espiritual. Uma paz interior que não se sabe
explicar.
Fiquei a saber que “adoro” subidas e “detesto”
descidas. Mas depois de uma grande subida há quase sempre uma grande descida
que custa bem mais do que subir. Assim acontece na nossa vida, temos subidas e
descidas para as quais temos que estar preparados para enfrentar, o que nem
sempre acontece.
De certa forma, fazer o caminho tem esse “poder” de
nos abrir os olhos, os pensamentos e o coração também e pensarmos no que
realmente queremos e importa na nossa vida. Ajuda a libertar sentimentos e
pensar que chegou a altura de deixar ir o que queremos manter preso a nós, mas
que já não faz sentido.
Obrigada a cada um dos colegas de caminhada porque
sem vocês não teria sido possível viver tudo isto.
Ângela Dias
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