26 de abril de 2014

CAMINHO DE SANTIAGO – DIÁRIO DE UMA PEREGRINA - parte IV



 

CAMINHO DE SANTIAGO – DIÁRIO DE UMA PEREGRINA –parte IV

7h da manhã de terça-feira 15/04 prontos para a última etapa da caminhada a que nos propusemos. Era ainda de noite o que não deu para “saborear” a beleza de um bosque por onde passámos, mas que dava para perceber que à luz do dia seria muito bonito.
Desta vez encontrámos um grupo de 21 jovens da zona do Porto que já iam muito cansados, as mochilas eram muito pesadas porque estavam a fazer o caminho em autonomia sem carro de apoio. Dormiam mal, pois não conseguiam arranjar camas nos albergues chegando mesmo a dormir à porta dos pavilhões. Às 8h da manhã nós tínhamos um ar relativamente fresco e aqueles jovens de 15, 16 e 17 anos quase que se arrastavam. Uma sensação estranha, pois apesar de os vermos assim eles diziam que estavam bem – O querer é TUDO mesmo. Ficaram por Padrón para descansar. Nós seguimos o nosso caminho.

Foi no albergue de Téo que parámos para almoçar e descansar um pouco.
A temperatura estava mais amena o que ajudou bastante na etapa derradeira.
Depois de muitos quilómetros por entre aldeias, bosques, pinhais, terras de cultivo avistámos Santiago de Compostela. Um misto de sentimentos… é já ali, mas ainda falta um pouco.

Os últimos passos até à chegada à praça são um turbilhão de emoções.

Finalmente a praça e a Catedral! CHEGÁMOS! Objetivo cumprido! Orgulho de mim mesma! Para todo o lado que olhava via peregrino a chegarem. Um sentimento de paz, alegria, orgulho…tudo junto sem saber bem explicar…
Não posso dizer que tenha sido o concretizar de um sonho mas quase, pois desde muito nova que dizia que gostaria de o fazer. E agora está feito e sinto-me Feliz!
Ainda faltava uma coisa. Desde que saímos de Portugal que levávamos connosco a Credencial do Peregrino que tínhamos que ir carimbando pelos locais por onde passávamos (albergues, capelas/igrejas, cafés…). É esta Credencial que comprova que fizemos o caminho e que permite dormir em albergues da junta de freguesia. É com a credencial e os carimbos que conseguimos obter a “Compostela” – o Certificado passado pela Oficina do Peregrino.
Quando estava à porta da Oficina para obter a minha “Compostela” chegou o grupo de 21 jovens da zona do Porto. Senti uma alegria quando os vi. Depois de ter testemunhado, o esforço que faziam no dia anterior e agora estavam ali… felizes por terem chegado. O chefe deles reuniu-os e disse-lhes “Pessoal chegámos e estou orgulhoso de vocês!” Aquelas palavras emocionaram-me e tive de respirar fundo para que as lágrimas não surgissem, pois também tinha passado por o mesmo horas antes.
No final de toda a caminhada o balanço que faço é claramente positivo.
Vale pela experiência única, o companheirismo e entreajuda, a boa disposição e no final o sentimento de dever cumprido. Objetivo atingido quer a nível físico, quer espiritual. Uma paz interior que não se sabe explicar.
Fiquei a saber que “adoro” subidas e “detesto” descidas. Mas depois de uma grande subida há quase sempre uma grande descida que custa bem mais do que subir. Assim acontece na nossa vida, temos subidas e descidas para as quais temos que estar preparados para enfrentar, o que nem sempre acontece.
De certa forma, fazer o caminho tem esse “poder” de nos abrir os olhos, os pensamentos e o coração também e pensarmos no que realmente queremos e importa na nossa vida. Ajuda a libertar sentimentos e pensar que chegou a altura de deixar ir o que queremos manter preso a nós, mas que já não faz sentido.
Obrigada a cada um dos colegas de caminhada porque sem vocês não teria sido possível viver tudo isto.

ADOREI!!! VOLTAR A FAZER? SIM!!! QUANDO? UM DIA….


Ângela Dias

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