Ouviam-se os passos nas escadas, o toc-toc na porta, de
dentro uma voz forte e calorosa gritava “Entre quem vier por bem” ou “entre
quem é”. Com estas palavras há muito, muito tempo os besteirenses de porta só
encostada, não se dando ao trabalho sequer de correr o ferrolho recebiam assim
as visitas da sua casa. Conforme as pessoas, mas normalmente a adega era o
local escolhido para a receber e fazer as mordomias da casa. Afiava-se a faca
na pedra, ia-se ao presunto colocado em lugar estratégico, acompanhava-se com o
melhor vinho da casa. Assim, estavam reunidas as condições para se dar uso à
trambela, falar de tudo, ou de nada, porque o importante era conviver, ao mesmo
tempo beber uns copos. Sim, beber uns copos, porque para um bom português,
beber vinho era dar emprego a muita gente. Escrevia-se assim há muitos anos,
para mais de cinquenta.
De quando em vez, alguns dos convivas com alma de fadista
e já de grão na asa cantava o fado do embuçado, ou outra cantiga adequada ao
ambiente de euforia.
Tempos de confiança, tempos de respeito pela propriedade
alheia e sobretudo pela propriedade comunitária.
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