3 de abril de 2020

MEMÓRIAS BESTEIROS 5

A ALMINHA DA ESCRAVADA


De certeza, a todos nós, já nos chamou atenção, as Alminhas. Sentimos respeito, alguns de nós dedicam algum do seu tempo, a uma oração. Olhamos para elas, as Alminhas e, muitas interrogações nos surgiram ou nos surgem. Em primeiro lugar, o seu significado, os motivos da sua construção, as inscrições que se encontram gravadas.  Outra interrogação, a razão de ter sido construída, naquele local, normalmente nas encruzilhadas de caminhos.
O seu nome, como sabemos, é alminha, designação popular, mas aceite pelos estudiosos. Podemos mesmo inferir que estas representações artísticas de carácter religioso são a expressão da devoção popular pelas almas do purgatório. A razão da sua origem é que é mais complicado discernir. Alguns historiadores apontam que é seguimento da tradição greco-romana da existência de deuses protetores dos caminheiros, principalmente as encruzilhadas dos caminhos que eram locais perigos de eleição. Nesse sentido, junto aos caminhos, os gregos construíram pequenos monumentos em honra dos deuses protetores dos viajantes, como por exemplo Apolo e Hermes. Os romanos também tinham esse hábito ao construírem pequenos altares nas encruzilhadas, e mais tarde, junto aos caminhos. Qual terá sido a origem? Poderá, mas passados séculos a sua fundamentação é outra. Numa sociedade onde a igreja tinha um papel fulcral, e dentro do espírito da Contrarreforma, o concílio de Trento, no seguimento de outros concílios reforçou o dogma do Purgatório e sobretudo na salvação das almas. Conscientes desde sempre do fascínio causado pelas encruzilhadas dos caminhos, locais de “medos” e de “perigos”, por vezes marcados por infaustos acontecimentos, esses locais foram escolhidos para essas construções. No início eram pinturas, mais tarde, próximo de nós, as pinturas foram substituídas por azulejos com uma inscrição muito comum “A vós que ides passando, lembrai-vos de nós que imos penando”.
Uma das alminhas que para nós tem muito significado é a Alminha da Escravada. Situa-se na Arrifana e começa junto a ela, o caminho para a Ascensão, da freguesia de santa Eulália. Já não é do nosso tempo, mesmo dos mais velhos, mas, provavelmente há cerca ou um pouco mais de de 100 anos, no dia da festa das Cruzes da Ascensão, após a cerimónia religiosa, normalmente missa na Igreja Matriz de Santa Eulália de Besteiros saia a Ladainha com destino ao Monte Carmol, na serra do Caramulo.  A primeira paragem onde se desmanchava a ladainha era junto à Alminha da Escravada subindo depois a serra os devotos de forma livre com as canastras à cabeça e outros que transportavam as cruzes e os lanternins, bem como, os farnéis para mais tarde degustarem.
 Passavam próximo do Penedo do Ladrão, mais tarde, chegados ao largo junto da Capela de São Bartolomeu, em lugar predeterminado, formava novamente a ladaínha e cumpria todo o percurso.
É também, junto à Alminha da Escravada que a paróquia do Guardão forma, a sua procissão, já dentro da freguesia de Santa Eulália, no dia 10 de agosto quando vem cumprir, o seu voto à Nossa Senhora do Campo.

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