Desde os anos
noventa do século passado adquiri o hábito, de neste dia, 4 de fevereiro de
escrever uma carta a Besteiros, a minha terra que muito amo, e da qual sinto a
falta todos os dias, pela qual sofro, por nunca ter presenciado a concretização
dos seus anseios. Estar longe transporta consigo um sentimento de orfandade, de
perda que nunca é substituível. Gosto do sítio onde moro, mas não é o Campo, não
é Besteiros, não é a minha Terra, o meu mundo, o nosso mundo. Nos caminhos do
campo até as pedras onde tropeçam os nossos sapatos nos conhecem, mesmo que
esses caminhos já não nos transportem alguns lugares místicos que entretanto
fizeram “desaparecer”.
“Ao escrever-te
esta carta, numa época tomada pelas novas tecnologias, procuro transmitir-te
que a tradição ainda tem outro sabor.
É minha
firme intenção, deixar correr a tinta sobre a folha e ao mesmo tempo refletir
sobre a nossa terra, Campo de Besteiros e parabenizá-la por mais um aniversário
da elevação a vila, em 4 de Fevereiro.
Numa retrospetiva histórica, a
vida, nos finais dos anos vinte, estaria calma na antiga aldeia de Santa
Eulália de Besteiros. O seu desenvolvimento era marcante num vale
essencialmente rural, agitado às vezes, pela partida dos seus jovens para as
grandes cidades, ou para o outro lado do Atlântico, nomeadamente o Brasil.
Santa
Eulália de Besteiros destacava-se pela sua localização, cruzamento de várias
estradas que rasgavam o vale, atraía a si as terras em volta, devido à sua
importância económica, reflexo do seu comércio e indústria. A nível
associativo, duas associações comprovavam o espírito de iniciativa presente nos
besteirenses. A Sociedade de Defesa e Propaganda do Vale de Besteiros
constituída com o objetivo de defender os interesses da região e o Besteiros
Futebol Clube que proporcionava aos jovens a prática do futebol.
Por vezes temos tendência a
minimizar aquilo que é nosso, por isso atentem ao que escrevia um besteirense,
na Folha de Tondela de 2 de Março de 1924, “... na nossa terra, tão linda e
tão invejada por quantos aqui aportam, ou tem a dita de a conhecer, alguns
verdadeiros bairristas convidaram os representantes do comércio e da indústria
e os principais proprietários desta freguesia...”
Por isso, Santa Eulália reunia todas
as condições necessárias para ser promovida à categoria de vila. O Decreto –
Lei 16.467 de 4 de Fevereiro elevou Campo de Besteiros à categoria de vila.
Data significativa para todos
besteirenses que terá sido uma compensação diminuta para aquilo que era
ambicionado. Três anos antes lutava-se pela criação do concelho de Besteiros,
ambição quase concretizada que só a substituição de um ministro e as jogadas de
bastidores que contribuiriam para alteração da decisão da freguesia de Barreiro
de Besteiros.
Por
hoje vou ficar por aqui, porque a carta já vai longa.
Sejam felizes, são os votos do vosso
amigo;
Joaquim
Calheiros Duarte
Armamar, 4 de
fevereiro de 2015
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