Notava-se
na entoação da voz que se encontrava a viver um momento solene, afirma-se
mesmo, que se estava perante a assinatura de um contrato, que era o contrato de
enganchar para se dar o Folar. De caras sisudas, de dedo enganchado repetia-se
a lengalenga de “enganchar, enganchar, para no domingo de Páscoa dar o Folar.
Reza”. Normalmente eram os dedos mindinhos que se enganchavam e selavam o
acordo feito de palavras, mas a palavra dada sempre se cumpria.
Então
a nossa preocupação era durante o dia, em terreno aberto vermos o nosso
adversário para o mandar rezar. Ditavam as regras que a telha protegia da reza,
e só se podia mandar rezar de hora a hora, e sempre de dia, por isso,
desenvolviam-se estratégias para conseguir apanhar o outro desprevenido para o
mandar rezar, e então ganhar o folar.
Por
isso, numa esquina escondido como o leão à procura da sua presa, se dizia:
-
Reza, Alice.
De
sorriso maroto se partia à procura de outra vítima, de outro folar para ganhar.
Nessa altura já se preparavam os dentes para o folar saborear, em dia de
Páscoa.
Era
assim a tradição que os tempos de hoje fizeram perder, num mundo que corre cada
vez mais depressa, mais depressa que a memória, mais depressa que as nossas histórias.
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