5 de abril de 2010

Páscoa Besteirense

A sineta anunciava a boa nova da chegada do “compasso” próximo das nossas habitações. Esperava-se algum tempo, seguindo a tradição, as pessoas iam ditando sentenças, algumas bem completas, outras de somenos, mas todas versavam o mesmo, “…este ano estão mais atrasados.”. Todos os anos estava-se mais atrasado, na opinião das pessoas, mas não era bem assim, porque por vezes não se tinha em conta a horário da partida. Mas mesmo assim a visita pascal conserva em si o encanto, porque quase todos recebiam com carinho a visita da cruz que simbolicamente lembra o Jesus Ressuscitado. Nos meus tempos de criança, o senhor abade levava os bolsos cheios de amêndoas e as crianças acompanhavam com alegria, guerreando para pegarem na sineta, então era ver quem mais barulho fazia. As amêndoas adoçavam a boca, alegravam a criançada, dando outro sabor à Páscoa. Ao mesmo tempo transmitia-se alegria repenicando nos sinos da Igreja encontrando-se a Torre aberta para se poder exprimir as “nossas” qualidades a dar ao badalo. Dia diferente, dia de roupa nova, sapatos novos, que nos fazia olhar para o chão evitando-se as pedras que povoavam as nossas ruas, não fossemos nós dar uma topeirada e esmurrarmos os sapatos.
As portas das casas eram atapetadas de flores que davam ar primaveril à quadra contribuindo para transmitir a mensagem do ciclo da vida, sobretudo o renascer.
Hoje, perdeu-se um pouco do encanto desta quadra, mas a mesma ainda conserva em si, principalmente para aqueles que já assistiram a muitas primaveras o encanto e o sabor que nos transmitia a nós quando crianças.

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