15 de fevereiro de 2010

Grande Nevão em Campo de Besteiros

A Neve voltou a pintalgar o vale de Besteiros. Desta vez com mais intensidade e foi com surpresa que os besteirenses, de manhã, ao levantar, viram que a Mãe Natureza pintou todo o vale de branco. A neve transporta consigo imagens e desperta-nos o nosso lado de criança. Quem não gosta de fazer uma bola de neve e com ela atingir um mais distraído?
Sem dúvida, Campo de Besteiros fica mais encantador quando a neve o visita. “Faz bem à terra”, dizem os mais velhos, “mata o bicho”, afirmam outros. Mais tarde, filosofamos acerca das alterações climáticas, mas começa a tornar-se banal a queda da neve que os anos já não se guardam na memória como um facto extraordinário. Muitas interrogações se levantam em relação ao clima. Mas que se registe, no dia quinze de Fevereiro caiu um nevão dos antigos na pacata vila de Campo de Besteiros, ou melhor dizendo por todo o Vale de Besteiros.
Desculpem a nostalgia que me afecta, quando cai neve. Lembro-me sempre deste poema do meu tempo da Escola Primária que para sempre ficou guardado na minha memória.


Balada da neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.”

Augusto Gil, Luar de Janeiro

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