Sempre que se
aproxima 4 de fevereiro, a saudade aperta, as memórias como que explodem em
catadupa, de tempos de meninice, na bela adormecida. 4 de fevereiro, a vila de
Campo de Besteiros faz anos, prenda mínima para quem tanto lutou para que no
futuro as gerações vindouras pudessem definir o seu percurso, de forma
autónoma, independente. Olhar oitenta oito anos atrás perdeu-se a dinâmica, a
ânsia de querer mudar o mundo, e sobretudo aquele bairrismo, aquele amor filial
transformou-se por artes mágicas em comportamento de dormitórios de zonas
industriais.
Campo de Besteiros ao escrever-te esta carta, numa época tomada pelas
novas tecnologias, procuro transmitir-te que a tradição ainda tem outro sabor, ou
melhor, aquele sabor, o acreditar deve fazer parte da esperança, da vontade de
um povo, embora hoje as lutas sejam outras, porque há causas que se perderam
para sempre.
Mesmo
assim, é minha firme intenção, deixar correr a tinta sobre a folha e ao mesmo
tempo reflectir sobre a nossa terra, Campo de Besteiros, e parabenizá-la por
mais um aniversário da elevação a vila, em 4 de Fevereiro.
Numa retrospectiva histórica, a
vida, nos finais dos anos vinte, estaria calma na antiga aldeia de Santa
Eulália de Besteiros. O seu desenvolvimento era marcante num vale
essencialmente rural, agitado às vezes, pela partida dos seus jovens para as
grandes cidades, ou para o outro lado do Atlântico, nomeadamente o Brasil. Sempre
em busca da quimera, do sol após a linha do horizonte, porque, por vezes o não
brilhava para todos.
Santa
Eulália de Besteiros destacava-se pela sua localização, cruzamento de várias
estradas que rasgavam o vale, atraía a si as “gentes” das terras em volta,
devido à sua importância económica, reflexo do seu comércio e indústria. A
nível associativo, duas associações comprovavam o espírito de iniciativa
presente nos besteirenses. A Sociedade de Defesa e Propaganda do Vale de
Besteiros constituída com o objectivo de defender os interesses da região e o
Besteiros Futebol Clube que proporcionava aos jovens a prática do futebol.
Por vezes temos tendência a
minimizar aquilo que é nosso, por isso atentem ao que escrevia um besteirense,
na Folha de Tondela de 2 de Março de 1924, “... na nossa terra, tão linda e
tão invejada por quantos aqui aportam, ou tem a dita de a conhecer, alguns
verdadeiros bairristas convidaram os representantes do comércio e da indústria
e os principais proprietários desta freguesia...”
Por isso, Santa Eulália reunia todas
as condições necessárias para ser promovida à categoria de vila, prenda menor
para quem almejava a sede do concelho de Besteiros. O Decreto – Lei 16.467 de 4
de Fevereiro elevou Campo de Besteiros à categoria de vila.
Data significativa para todos os
besteirenses que terá sido uma compensação diminuta para aquilo que era
ambicionado. Três anos antes lutava-se pela criação do concelho de Besteiros,
ambição quase concretizada que só a substituição de um ministro e as jogadas de
bastidores que contribuiriam para alteração da decisão da freguesia de Barreiro
de Besteiros.
Mais uma vez, vou ficar por estas
linhas que vos deixo.
Sejam felizes, são os votos do vosso
amigo;
Joaquim
Calheiros Duarte
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