Domingo de Páscoa, de acordo com os últimos dias esteve
quente, solarengo a convidar estar na rua á espera do compasso. A noite ainda
dava os últimos estertores, já se ouvia pelo vale de Besteiros, o som dos
foguetes a anunciar a ressurreição.
Os sinos entoam aleluia, aleluia de Cristo
ressuscitado, momento histórico que transmite esperança, esperança em dias
melhores, apesar de vermos e constatarmos muitas casas fechadas, muitos rostos
tristes pela amargura de verem os seus longe do seu torrão natal e sobretudo
por não puderem beijar a cruz.
O som da campainha marca o compasso, a passada, ao
mesmo tempo anuncia a chegada da Cruz, e nesse momento, revive-se na casa de
cada um, a Ressurreição de Cristo. De portas abertas, de sorriso escancarado no
rosto espera-se a vez de ver cruzar os umbrais da cruz que anuncia este momento
sublime do Cristianismo. Perdeu-se talvez com o marchar do tempo um pouco da
magia da Páscoa, a sua envolvência, a alegria das crianças atrás das amêndoas,
da cobrança das rezas ganhas que tinham decorrido até sábado da aleluia. Hoje,
o ovo de Pascoa está mais presente, neste caso o de chocolate, confundindo um
pouco as crianças com este dilema científico, como é que um coelho produz ovos.
Desta folia de dar ovos de chocolate contribui que as crianças se preocupem
mais com o brinquedo de com o chocolate propriamente dito.
Mesmo assim, o folar, o bolo azedo ou doce conforme as
preferências, o cabrito, ou então o cordeiro vão enchendo as mesas de cada um,
não esquecendo o pão-de-ló mais o queijo, e um copito de branco, já se cumpre a
tradição, pois então! Corre-se de casa em casa, a repetir vezes sem conta o ato
de beijar a cruz.
Em tempos idos, na semana anterior era hábito limpar e
lavar a casa, normalmente com sabão amarelo já que o soalho era de madeira,
porque dava uma tonalidade única. Nas mesas da casa a tradicional tolha branca
com o folar, às vezes, era uma laranja acompanhada por uma moeda ou nota
conforme as posses de cada um.
Em Campo de Besteiros, também se reviveu a Páscoa,
depois de uma semana intensa que é a Semana Santa. As cerimónias marcantes do
monte do Calvário, cenário inigualável dos acontecimentos marcantes da vida de
Cristo. Momento intimista, mesmo único de reflexão, onde o amor de mãe está
presente no coração de cada um.
O domingo acorda cedo
com o tocar do sino a anunciar a procissão de Cristo Ressuscitado pelas ruas da
“bela adormecida”, como acordá-la do sono a que se tem votado desde há muito,
mesmo muito tempo. Mais tarde, no fim da Sagrada Eucaristia percorrem as ruas,
agora duas cruzes transportadas pelos mordomos ou pelos membros da Comissão
Fabriqueira. Não como antigamente em que o mesmo grupo percorria toda a
paróquia, desde muito cedo, sempre numa luta contra o tempo e sempre ouvindo – “este
ano estão atrasados”. Que saudades, mesmo que saudades de dezasseis anos ininterruptos
em que fiz parte do Compasso. Novos tempos, outras mudanças, mas sempre o
compasso a marcar o ritmo da vida das pessoas no domingo de Páscoa. Sempre com
prazer que se vive este dia, e a honra de pertencer a esta
comunidade.
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