Ontem, fecharam
a escola, a escola onde muito de vós aprenderam as primeiras letras, onde
muitos de vós descobriram que o mundo não se resumia à vossa aldeia. Ontem,
fecharam as urgências de noite, agora num momento de aflição temos de aguardar
pela ambulância que por caminhos esconsos nos levam para hospital que ainda
funciona, mas com taxas moderadoras a convidarem a ficarem em casa. Ontem,
fecharam as maternidades, fecharam os serviços de proximidade. Ontem, fizeram-nos
voltar às estradas antigas, cheias de buracos, de mil perigos escondidos ao portajarem
autoestradas que nos aproximavam do resto do país.
Hoje, querem
fechar os tribunais, extinguir freguesias, mais tarde talvez fechar as finanças.
Amanhã querem fechar
a Câmara, fechar outros serviços estatais que ainda restam.
Ao mesmo tempo
dizem-nos palavras meigas, cheias de falsidade que querem revitalizar o
interior, combater a desertificação. Tudo a soar falso, tudo a soar a
intrujice, mas nós cordeirinhos aceitamos sem sequer reagir.
Viver no
interior, viver no mundo rural é conseguir obter uma qualidade de vida
invejável, desde que os serviços possam funcionar, desde que o lema a
norteá-los seja servir o cidadão que também paga impostos, desde há muito, mas
poucas vezes sem beneficiar deles.
Viver no interior
é viver sem pressa, a ouvir o rosnar dos cães, mas sem ter medo da sombra de um
homem. É ser livre, é ser feliz, é ser português. Não queremos subsídios por
viver aqui, queremos somente ter aquilo que os outros têm, e que não nos fechem
serviços, que não nos tirem a esperança e o gosto de viver em Portugal.
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