Monte do Calvário, visto da Praça da República |
Mais distante, mas também o nosso
mundo, o Monte do Calvário, do qual olhar para Campo de Besteiros nos
transportava para sensações únicas. Hoje, reconheço que a paisagem com que nos
deparamos não é aquela que sempre nos encantou. Já não se vê a chaminé da
fábrica, já não se vê as duas fábricas na sua azáfama diária, não se vê a Sagripel
a laborar, não se vê o campo da Neuza. De quase tudo isto, restam memórias,
restam histórias de vida de quem trabalhou, de quem jogou, de quem sonhou que
estava a construir o seu futuro, de quem pensava que o amanhã não seria tão
indiferente, tão impessoal. De certeza já não verá o espírito automobilístico proporcionado
pelas provas de perícia. Talvez tenha subido no ar e se evaporou para outras
alturas, para outros interesses.
Podemos apurar o ouvido, mas já
não ouvimos a sirene da fábrica velha, ou da nova, já não ouvimos os
trabalhadores a terminar o seu dia de trabalho. Mais tarde, a avenida Afonso
Costa enchia-se de gente, de bicicletas, de motorizadas, ou mesmo a pé no
regresso aos seus lares, no tempo de verão, mesmo à sua labuta com a terra para
ainda retirar delas uns “mimos” para encher a mesa.
Ao olhar para este acontecimento,
para este destino impressiona que o mesmo não tenha merecido atenção das
entidades governantes, mesmo um plano de contingência, somente por respeito
pela história, uma simples zona industrial. Impressiona tanta insensibilidade,
tanta indiferença. Presumo até que o maior ruído veio da chaminé, quando a
mesma foi derrubada, como algo desprezível sem valor histórico. Viajar pelo
país, vejo tantas chaminés altaneiras, mesmo orgulhosas. Então pela Europa,
muitos são o exemplo. Noutros locais recria-se o espírito, aqui não há
espíritos, há sim indiferença, discriminação, mas verdade seja dita, que hoje
ao contrário de ontem, não há revolta, não há paixão, não há o acreditar numa
terra, e no seu sonho. Não queremos mais dos que os outros só queremos aquilo a
que temos direito, mas não nos façam de lorpas.
3 comentários:
Mais um bom exemplo e uma prosa sublime, sobre um comentário deveras oportuno e que longe do torrão natal nos faz meditar e valorizar tudo que de bom perdemos, e verificar a inércia que se apoderou dos besteirenses e da falta de brio e de sensibilidade para o futuro de Campo de Besteiros.Oxalá os ventos mudem e apareça um lider forte que dê o impulso que ela merece e a relance definitivamente na senda do progresso e consequentemente do bem estar das suas gentes, na senda de que outros besteirenses fizeram nos anos de 60 e 70 do século passado e que já partiram, mas deixaram o seu legado e uma profunda saudade e reconhecimento de todos quantos tiveram o previlégio de os conhecer e com eles contactar. Campo de Besteiros tudo merece, haja boa vontade e espírito de iniciativa. O Congresso de Besteiros pode ser um bom arranque.
Perderam-se muitas coisas, mas também se ganharam outras e onde estavam situadas as fábricas podem nascer novas urbanizações e novas valências para a vila. Temos que ter confiança, pois na vida tudo é temporal e Campo de Besteiros vai ser cada vez maior. Temos de ter confiança.
Podem nascer novas urbanizações que davam outro ar a Campo de Besteiros, mas as novas urbanizações pressupõe a vinda de mais pessoas. Mas perderam-se postos de trabalho,fecharam empresas e essa situação não mereceu um plano de contigência, nem respeitaram a terra que era o polo industrial do concelho.
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