Contam-se muitas histórias da
farinha, dos moinhos, mas estamos conscientes que o milho, a sua farinha, os
carolos fizeram parte da nossa alimentação. Hoje, os nossos campos abandonados
à sua sorte já não parecem ondular ao sabor do vento com os milheirais. Aquela
mancha verde ondulante preenchia o nosso horizonte. Hoje, são menos os terrenos
cultivados. Sinal dos tempos, onde agricultura deixou de ser, para alguns, uma
atividade importante, mesmo de complemento. As eiras enchiam-se de milho,
aproveitando o sol sempre viradas a sul e a poente para os últimos raios
incidirem sobre elas. Das arcas saia o milho para os moinhos. Ia-se à fábrica
Nova, ou então até à Ribeira, e desse cereal, conforme a moagem resultava uma
farinha fina, ou então os famosos carolos.
Ontem, ia à mesa dos pobres com as
tripas, com os enchidos, com a carne de vinho d’alhos, hoje, ironicamente enche
as mesas dos ricos como iguaria de sabor único. Também, a farinha mais fina se
faziam umas “papas” doces a imitar o leite-creme das mesas dos mais
afortunados.
Já na Idade Média utilizavam-se os
denominados cereais de segunda, como aveia, milho-miúdo e o painço, todos eles
transformados em farinha para confecionar umas “papas”, a que acrescentavam carne
de porco salgada para lhe dar outro sabor. De certeza, desde sempre, ao
contrário dos nossos dias, a maioria dos habitantes de Besteiros dedicava-se à
agricultura, iniciando o dia mesmo ao amanhecer. Talvez, se iniciasse o dia com
um copo de vinho, ou outra bebida alcoólica destilada porque transmitia uma
sensação calórica acompanhada com alguma bucha, quem sabe os figos. Mais tarde,
ainda de manhã tinha-se um almoço ligeiro para compensar as energias perdidas.
Por último, e um pouco após de se perder a luz solar a ceia, porque o corpo
pedia cama depois de uma jornada de trabalho.
Estas memórias gastronómicas estão-se
a perder, porque nada se faz para conservá-las. Faz parte da nossa história,
este tipo de alimentação, como mais recentemente, o frango. Existem formas de
reviver e de conservar este bem comum. Os outros, mais avisados e organizados
apoderam-se como se fossem os únicos donos. Nós, como sempre estamos a dormir,
não o sono dos justos, mas o sono daqueles conformistas, que tudo aceitam e
nada questionam.
Um comentário:
É por pequenas coisas como estas e outras maiores que se justifica o congresso de Besteiros.
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