2 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS INDUSTRIAIS DE BESTEIROS


“Às seis toca o Búzio,

Às seis trinta, o Perica

Às sete toca a Nova

A Velha também apita”

Assim versavam aqueles que todos os dias mourejavam tanto nas fábricas, como nos campos. Não era tempo de relógios, porque isso era luxo de gente rica, mas governava-se o tempo, não só com o nascer do sol, mas com o toque das ave-marias, conjuntamente com a sirene das fábricas. Começava cedo o dia em Besteiros, dia de trabalho, de bulir, de procura de sustento para a mesa em tempos de dificuldades. Muitas bocas para alimentar, obrigava mesmo os mais novos, por os pés ao caminho. Estudar, para alguns, até à quarta classe, as raparigas até à terceira classe, depois era tempo de guardar os rebanhos, trabalhar nos campos, ou mesmo um trabalho na fábrica, onde o pai e os irmãos já ganhavam o seu sustento. Embora, a escola primária ainda tenha sido criada no tempo da monarquia, corria o ano de 1906, quando a freguesia de Santa Eulália de Besteiros teve direito a mestre-escola, alguns tentavam escapar, porque a educação não era naquele tempo uma prioridade. A prioridade passava antes por aprender uma profissão, habituar cedo o corpo ao trabalho, porque o ócio traz consigo a malandragem.
Olhar do Monte do Calvário era olhar para os campos todos cultivados, onde todo o espaço era aproveitado, para uns mimos, umas batatitas, o milho. Também se colhia o vinho, porque o corpo não trabalhava a água, diziam alguns que o excesso dela, poderia mesmo enferrujá-lo.
De sacrifício em sacrifício vivia-se, sofria-se, sobretudo calava-se os desabafos em época em que a liberdade era uma miragem, mas tinha-se trabalho, porém pouco para partilhar à mesa.

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