“Às
seis toca o Búzio,
Às
seis trinta, o Perica
Às
sete toca a Nova
A
Velha também apita”
Assim versavam aqueles que todos os dias
mourejavam tanto nas fábricas, como nos campos. Não era tempo de relógios,
porque isso era luxo de gente rica, mas governava-se o tempo, não só com o
nascer do sol, mas com o toque das ave-marias, conjuntamente com a sirene das
fábricas. Começava cedo o dia em Besteiros, dia de trabalho, de bulir, de
procura de sustento para a mesa em tempos de dificuldades. Muitas bocas para
alimentar, obrigava mesmo os mais novos, por os pés ao caminho. Estudar, para
alguns, até à quarta classe, as raparigas até à terceira classe, depois era
tempo de guardar os rebanhos, trabalhar nos campos, ou mesmo um trabalho na
fábrica, onde o pai e os irmãos já ganhavam o seu sustento. Embora, a escola
primária ainda tenha sido criada no tempo da monarquia, corria o ano de 1906,
quando a freguesia de Santa Eulália de Besteiros teve direito a mestre-escola,
alguns tentavam escapar, porque a educação não era naquele tempo uma
prioridade. A prioridade passava antes por aprender uma profissão, habituar
cedo o corpo ao trabalho, porque o ócio traz consigo a malandragem.
Olhar do Monte do Calvário era olhar
para os campos todos cultivados, onde todo o espaço era aproveitado, para uns
mimos, umas batatitas, o milho. Também se colhia o vinho, porque o corpo não
trabalhava a água, diziam alguns que o excesso dela, poderia mesmo
enferrujá-lo.
De sacrifício em sacrifício vivia-se,
sofria-se, sobretudo calava-se os desabafos em época em que a liberdade era uma
miragem, mas tinha-se trabalho, porém pouco para partilhar à mesa.
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