3 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS INDUSTRIAIS DE BESTEIROS -PARTE II


“Às seis toca o Búzio,

Às seis trinta o Perica

Às sete toca a Nova

A Velha também apita”

De certeza que devem ter sido muito poucos que identificaram o assunto a que se referia esta quadra de pé quebrado. De certeza, porque as memórias vão ficando esquecidas, sobretudo não são partilhadas, e o tempo acabará por apaga-las. Se olharmos com indiferença para as coisas, elas com um tempo deixarão de ter alguma relevância para nós, deixarão de ser algo que nos une, porque a memória apagou. Um povo sem memória é um povo sem identidade, dócil, facilmente manobrável.
Naqueles versos simples que espero ter reproduzido corretamente, podemos inferir que o dia começava bastante cedo, porque às seis horas, era hora de deixar o aconchego da cama, lavar “as trombas”, enganar o estômago com uma cevadita, um pouco de pão, e ala que se faz tarde.
O trabalho encontrava-se à porta, ou na agricultura, ou nas fábricas que foram designadas conforme a sua idade de fábrica velha ou fábrica nova. Às seis trinta tocava o sacristão o sino às ave-marias, marcando o início dos trabalhos agrícolas, a deslocação para os campos.
Passados trinta minutos tocavam os apitos da fábrica Nova e da Fábrica Velha a marcar o início dos trabalhos. Era assim o ritmo dos dias em Besteiros, onde o vale vivia do trabalho das fábricas existentes, mas também da agricultura, porque esta terra sempre foi uma terra fértil.
Assim desta forma se media o tempo, se marcava a rotina diária de Besteiros, mesmo com alguma pobreza as pessoas faziam por ser felizes. Embora o mundo fosse muito restrito, aos domingos, nos verões tinha-se a Pedra Furada ou a Tabuaça para banhos, o largo da Fonte do Bico, ou a Praça da República para as danças ao som de uma concertina, ou cavaquinho. Viviam felizes á sua maneira, mas viviam felizes.

 

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