“Às
seis toca o Búzio,
Às
seis trinta o Perica
Às
sete toca a Nova
A
Velha também apita”
De certeza que devem ter sido muito
poucos que identificaram o assunto a que se referia esta quadra de pé quebrado.
De certeza, porque as memórias vão ficando esquecidas, sobretudo não são
partilhadas, e o tempo acabará por apaga-las. Se olharmos com indiferença para
as coisas, elas com um tempo deixarão de ter alguma relevância para nós,
deixarão de ser algo que nos une, porque a memória apagou. Um povo sem memória
é um povo sem identidade, dócil, facilmente manobrável.
Naqueles versos simples que espero ter
reproduzido corretamente, podemos inferir que o dia começava bastante cedo,
porque às seis horas, era hora de deixar o aconchego da cama, lavar “as
trombas”, enganar o estômago com uma cevadita, um pouco de pão, e ala que se
faz tarde.
O trabalho encontrava-se à porta, ou na
agricultura, ou nas fábricas que foram designadas conforme a sua idade de
fábrica velha ou fábrica nova. Às seis trinta tocava o sacristão o sino às
ave-marias, marcando o início dos trabalhos agrícolas, a deslocação para os campos.
Passados trinta minutos tocavam os
apitos da fábrica Nova e da Fábrica Velha a marcar o início dos trabalhos. Era
assim o ritmo dos dias em Besteiros, onde o vale vivia do trabalho das fábricas
existentes, mas também da agricultura, porque esta terra sempre foi uma terra
fértil.
Assim desta forma se media o tempo, se
marcava a rotina diária de Besteiros, mesmo com alguma pobreza as pessoas
faziam por ser felizes. Embora o mundo fosse muito restrito, aos domingos, nos
verões tinha-se a Pedra Furada ou a Tabuaça para banhos, o largo da Fonte do Bico,
ou a Praça da República para as danças ao som de uma concertina, ou cavaquinho.
Viviam felizes á sua maneira, mas viviam felizes.
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